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Arthur Ituassu

Eleições mostram déficit de representação no RJ


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Voto nulo no estado tem sido maior que a média nacional desde 2006.

Uma ampla literatura chama a atenção hoje para uma série de problemas que estariam abatendo de forma mais ou menos generalizada boa parte dos regimes democráticos contemporâneos. Entre os sinais apontados estão a apatia dos eleitores, o descolamento entre o sistema político e o cidadão, o desinteresse na política, uma informação política de qualidade baixa, distorcida ou excessivamente dependente dos meios de comunicação de massa, o baixo capital político da esfera civil, ausência de soberania popular e a desconfiança generalizada da sociedade na política e na classe política. Nesse contexto, alguns autores apontam para uma “crise de representação”, que se sustentaria no declínio do comparecimento eleitoral, o aumento da desconfiança em relação às instituições políticas e o esvaziamento dos partidos.

Ao menos no que diz respeito ao ambiente eleitoral, os últimos pleitos parecem demonstrar um claro descontentamento dos eleitores do estado do Rio de Janeiro em relação à política e os políticos. Basta ver os números.

Em 2006, por exemplo, a disputa presidencial entre Lula e Alckmin apresentou, no segundo turno, uma abstenção nacional de 18,99%, 1,32% de votos brancos e 4,71% de nulos. No Rio de Janeiro, para presidente, a abstenção no segundo turno foi um pouco menor, de 17,3%, mas votos brancos foram 2,13% e, em especial, os nulos chegaram a 9,68%. Naquele ano, os votos nulos para governador, na disputa entre Sérgio Cabral (PMDB) e Denise Frossard (PPS), foram 13,35%, bem acima da média nacional.

Em 2010, na votação para presidente (Dilma x Serra), a abstenção nacional foi de 21,5%, os votos brancos foram 2,3% e os nulos, 4,4%. No Rio de Janeiro, a abstenção foi também de 21%, mas brancos foram 3,43% e nulos, 7,4%. Sobre a votação para governador, quando Sérgio Cabral (PMDB) venceu no primeiro turno, os votos em branco foram 6,13% e os nulos, 11,39%, também bem acima da média nacional.

Em 2014, a situação se repete. A disputa entre Dilma Rousseff e Aécio Neves apresentou, no segundo turno, uma abstenção de 21,1% – 20% tem sido a média no Brasil de ausentes nos pleitos presidenciais –, 1,71% de votos brancos e 4,63% de nulos. No Rio de Janeiro, a abstenção foi um pouco maior, 22,36%, votos brancos para presidente 2,78% e nulos, o alto índice de 10,51%. Para governador, a situação parece ainda mais grave, com 3,39% de brancos, no segundo turno, e 13,96% de nulos.

Fica claro, assim, um certo clima de "não me representa", que paira no estado ao menos desde 2006. Causas disso podem ser um certo esvaziamento da importância da política fluminense nas disputas nacionais e um relativo engessamento da política local em torno de "caciques" com alto índice de rejeição como Sérgio Cabral, Garotinho e César Maia. Ao mesmo tempo, no entanto, que o cenário parece desolador, parece notório também que há um espaço vazio de representação à espera de uma plataforma alternativa no estado, uma oportunidade de "mercado". A demanda está aí, o problema parece ser mesmo da oferta.

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